segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dada? Nada.



Dada significa nada. Pelo menos foi esse o significado que eu sempre dei a palavra. Acho que o termo se mistificou assim como a origem do personagem Coringa. Cada fonte diz uma coisa, Dadá: o som que os bebês fazem, Dadá: uma palavra escolhida ao abrir uma página aleatória de um dicionário, Dadá: Cavalo de Pau; tanto faz: nenhum dos nomes rotula o movimento. 



Principalmente porque o Dadaísmo não deveria fazer o menor sentido, começando pela falta de definição da palavra “sentido”. O Dada não se dá por construção. O Dada é. A ausência de metafísica que Fernando Pessoa tanto almejava e se contradizia ao discuti-la, o Dada foi o ID das vanguardas: instintivo, irracional, automático e instantâneo. Uma verdadeira cuspida na cara dos valores, sejam elas quais forem, rompimento com quaisquer regra. O manifesto se diz contra manifestos, estabelecendo toda a confusão do homem moderno, que busca basear-se no que não se baseia. Ser do contra somente para ser do contra: abolição de lógica, porque lógica aborrece. Nessa imensa falta do que nexo, os surrealistas foram os sãos de uma geração de loucos, que procuraram seus valores em primórdios sujando suas mãos de sangue, em uniformes civilizados e quepes obscenos. O caos quebrado e desastrado dos dada não se comparava ao caos milímetro dos que eram normais. Nesse caso, ser diferente era realmente ser normal. 


O Dada revolucionou na composição de arte, transformando o que fosse em arte. Sem questionamento, um mictório, como o de Duchamp, era obra prima. Tzara, autor do manifesto que não era manifesto, recomendava aos seus seguidores que fizessem poemas com palavras aleatórias recortadas de um jornal. O Dada chegou a decadência rápido. O Dada era a decadência. Sem sofisticação alguma, ele fracassou quando tomaram-lhe reflexão explícita, ganhando o que nunca quis ter, mas sempre teve: coerência.

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